Nunca fui muito bom de bola, de atacante era ruim, de meio
campo apagado, de zagueiro era um desastre. Mas, uma posição que me deixava
quase confortável era a de goleiro. Tinha um bom reflexo e tinha coragem de
defender atacando os atacantes da equipe adversária.
Quando era criança, não havia campos de futebol no nosso
bairro, na realidade sempre jogamos no improviso. Um espaço de areia era
suficiente para colocarmos duas pequenas traves e passarmos o dia inteiro
jogando futebol, brincadeira de criança, brincadeira de brasileiro. Alguns por
aí costumam dizer que o brasileiro não leva uma tapinha no bumbum para chorar
quando nasce, mas uma bolada. Brincadeira de mal gosto essa. Não?
Mas, existia um campo, o único nas redondezas. Não era bem
um campo, na realidade era um curral que tinha um espaço plano embaixo de
árvores: cajueiros e mangueiras. O campo do curral.
- Pessoal, amanhã a gente vai enfrentar o time do curral,
Guará Vs Curral – Gritava Emanuel meu irmão que era um tarado por futebol.
Guará (resumo do nome da nossa rua Guaraciaba do norte)
contra o time do curral era uma festa e rivalidade ao mesmo tempo.
Em um destes jogos eu era o goleiro. Começamos ganhando por 0
x 3. Eu pegava tudo. Até rabo de vento não passava. Lembro ainda a marca da
bola (Mikasa). Aquela bola branca com marcas azuis estava me dando sorte. Eles
chutavam rasteiro e eu pegava. Chutavam alto e como um gato metia para fora.
Batiam no meio e encaixava até que o atacante deles após chutar três vezes
seguidas e eu defender e encaixar a bola me chutou a mão e quebrou 3 dedos da
mãos esquerda. A consequência? Perdemos de 8 x 3 de virada. Engessei a mão e a
bola Mikasa furou e o campo do curral virou o colégio mundial.
Érick Freire
Pedagogo e escritor