Antes de falar
sobre a relação entre louvor e a música precisamos entender um pouco de filosofia.
“O homem é a medida de todas as coisas”.
Afirmou Protágoras, esta ideia ganhou mais força após o advento do
racionalismo e por conseguinte alimentou o chamado antropocentrismo, quando
descarta Deus do centro das coisas e agora posiciona o homem como o principal
agente da história. Não só agente como também construtor da própria ideia de
verdade, sendo então relativa, este era um argumento sofista que inclusive era
contrário ao pensamento de Sócrates sobre a busca do conceito absoluto de cada
objeto em questão.
Esta mudança
filosófica que visa contrariar a igreja e os seus ideais medievais vem fomentar
um sentimento de egoísmo e etnocentrismo humanos, dando um poder além do que o
homem realmente tem. Agora, Deus não faz mais parte do intelecto de alguém
realmente racional.
Após o
fortalecimento deste pensamento nascem várias ramificações de interpretação
filosófica acerca do antropocentrismo. Na igreja cristã, esta filosofia, coloca
o homem como centro das atenções de Deus. Alguém que Deus deve servir. É neste
contexto que precisamos fazer um paralelo entre a diferença do louvor e música
na Bíblia com a musicalidade gospel nos dias atuais. Até que ponto a música
gospel é louvor? Como pode se tornar antropocêntrica? Como identificar os erros
filosóficos e bíblicos tão comuns nas músicas hodiernas?
Para
identificarmos se uma música dita cristã é realmente bíblica precisamos usar
alguns parâmetros, o primeiro crivo está em
Filipenses 4:8 “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro,
tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é
amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
nisso pensai”.
Logo, também, Champlin nos dá uma lista
de 16 parâmetros com seguintes razões em relação a música como louvor essencialmente
bíblica:
1)
Magnifica a Deus (Sl 96)
2)
Glorifica a Deus (Sl 138)
3)
Exalta a excelência de Deus (Sl 148:13)
4)
Engrandece a Deus (Sl 145)
5)
Louva a bondade de Deus (Sl 107:8)
6)
Louva a sua misericórdia (Sl 89:01)
7)
Louva por sua longanimidade e veracidade (Sl
138:02)
8)
Louva a sua salvação (Sl 18:46)
9)
Louva as suas maravilhosas obras (Sl 89:05)
10)
Louva as suas consolações (Sl 42:05)
11)
Louva por sua justiça (Sl 101:01)
12)
Louva por seus conselhos eternos (Sl 16:07)
13)
Pelo seu perdão (Sl 103:1-3)
14)
Por sua proteção (Sl 71:06)
15)
Por seu livramento (Sl 40: 1-3)
16)
Por sua resposta (Sl 28:06)
O problema da música cristã nos dias
atuais não é tão novo, começou acerca de mais de duas décadas atrás. Na Bíblia
a música era pura e simplesmente utilizada para louvar ao Senhor na
congregação, ou seja, nas reuniões que a igreja fazia independente de local (1
Co 14:26). Não havia artistas em turnês de músicas sacras. E este é o problema
atual, a música cristã virou mercado, virou meio de vida, por isso a busca pela
qualidade não é, em sua maioria, para louvar melhor a Deus, mas para conseguir
maior público, aumentar vendas de CD’s e contratos de shows. O mercado evangélico tem crescido assustadoramente, muitos
tem se convertido a uma nova religião, mas o seu ideal não está atrelado a
busca por Deus, mas as benesses que este deus pode dar, por isso a cultura
musical também mudou de rota e de ideal.
Neste bojo então se encontra o erro. A
música mudou de figura, travestida de “hino” passou a cantar os desejos
humanos, as verdades humanas e a busca pela felicidade humana. Jargões
tornaram-se marca registrada nas gravadoras gospel Brasil a fora. Você já
ouviu? “Você é vencedor!”, “Você nasceu para ser vitorioso!”, “A vida do crente
é só vitória!”, “Você pode o que quiser!”, “Sonhe, não pare de sonhar!”, “Venha
buscar seu milagre!”, “Eu quero o meu milagre agora!”, “Resolve o meu problema”
e etc. Se você notou estes e outros jargões antropocêntricos fazem parte da
maioria das músicas denominadas como cristãs que tocam nas rádios (evangélicas
ou não) atualmente. É triste, mas a realidade da música gospel brasileira é uma
tragédia bíblica. O vírus do self e sua exaltação se espalhou em nosso meio de
forma dantesca e doentia. A saturação do eu é o maior problema que se impregnou
nas letras de autoria cristã evangélica.
Por isso deixo algumas indagações para
você refletir acerca da música que você ouve, ama e compartilha. A música
gospel que você canta segue estes parâmetros? O centro do louvor é o Senhor? Se
não, esta música está fadada ao fracasso espiritual.
Érick Freire
escritor e articulista