Dona Tatata tinha maior ciúme e muito cuidado com uma enorme planta que preenchia o seu jardim, na realidade, era uma grande árvore. Com certeza bem velhinha - pelo menos acho - pois era muito grande, enorme. Um pé de jambo-rosa. Aquela árvore era colossal e em épocas e épocas era o centro das atenções. A planta insistia em invadir nosso quintal. Não era ruim, aqueles apetitosos jambos cairiam mais cedo ou mais tarde e faríamos a festa. Criança faz festa com tudo, principalmente frutas das árvores dos vizinhos. Quem nunca tentou pegar nem que seja uma goiaba? Chico Bento e Zé Lelé que o digam!
Rubem Alves tem uma paixão, quase que erótica, pelo Caqui. E eu tenho uma paixão nostálgica e ao mesmo tempo presente pelo jambo. Quando o jambeiro está frondoso as frutas olham para mim e gritam: "Delicie-se, coma-me!" Roxinhas, apetitosas, macias, um azedinho adocicado, edulcorado, dulcificado. Mas o azedo pode ser doce? Claro que não. Mas, o jambo tem a capacidade de mesmo azedo ficar com sabor de mel na boca. É inexplicável.
Mas, não chamei você para este texto para falar do sabor do jambo, mas para aprender com o azedo-doce dele.
Lembro-me que quando criança não gostávamos de pegar jambo em jambeiros noviços porque seus frutos são mais amargos que limões. Não possuem força em seus 'galhotes' para aguentar o fruto amadurecer e se tornar "azedo-doce".
Daí reportei-me a olhar por algum tempo o jambeiro que fica a vanguarda de minha casa.
Enrugado, muito alto, velho, forte, mas ao mesmo tempo sofrido. Daí tirei várias lições para mim e para o leitor.
Na vida do jambeiro há muitas intempéries, pois ele é sujeito ao tempo (calor, frio, chuva e raios solares). Enquanto dormimos no frio ou escapamos das garras dos raios UV dentro de nossas casas o jambeiro anoitece e alvorece exposto a tudo. Morcegos, pássaros fazem morada nele. Usam sua sombra e aconchego para descansar, enquanto o jambeiro não é protegido, sempre está exposto. Sofre diretamente para proteger e alimentar animais que o usam.
Mas, o que vejo em tudo isso? O jambeiro noviço não serve de morada, tem galhos lisos, verdes, produz frutos intragáveis e não alimenta, tampouco dá guarida para quem está em sua volta. Sofre do sol e da lua, mas ainda não se enruga porque é "resistente" e não quer envelhecer. Seus galhos são frágeis, seus frutos não degustáveis.
Do mesmo modo é o jovem e o velho. De longe aparentemente o velho não tem nada para oferecer, mas quando estamos embaixo de suas sombras comemos dos frutos azedo-doces da vida, os frutos da sabedoria, da experiência e do viver. Sua sombra nos assegura conhecimento, seus galhos são fortes e nos enxertam ânimo. Poderia um jovem nos oferecer isso, improvável. Na realidade o jovem pode tentar oferecer uma sombra, mas esta não nos protege completamente porque há horas que ele não sofreu suficientemente para nos aconselhar. Seus frutos parecem com os frutos do jambeiro ancião, mas ao mordê-lo só tem a capa, tem gosto de limão!
Prefiro comer um fruto azedo-doce dos velhos jambeiros a que comer uma cesta de frutos de um jambeiro noviço.
Érick Freire
Escritor e pedagogo
terça-feira, 20 de maio de 2014
Meu pé de jambo-rosa. Érick Freire.
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